O governo hondurenho passa por um drama vivido por nós nos sessenta e setenta, atônita, a população assiste os militares seqüestrarem seu presidente – de esquerda – e tomarem conta do país, apoiados por igreja e grupos de direita. Nossas tão famigeradas forçam estrangeiras se resumem a condenar esta interferência por meio de inúteis pronunciamentos escritos, os governos dos EEUU e Brasil, que se gabam por serem potencias democráticas em nada interferem – o autoproclamado bolivariano Chaves ameaça intervir militarmente, o único. O que cabe a nós americanos? O que cada cidadão comum pode e deve fazer a favor da democracia em nosso continente e no mundo? Meramente assistir na televisão os noticiários tendenciosos de grandes conglomerados da mídia não deveria estar em nossos planos.
Não digo que tenhamos que atear fogo em alguém ou seqüestrar representantes desses ditadores calhordas. A juventude – mas, sobretudo os de meia idade que viveram o horror da ditadura e clamaram por ajuda externa – deve agir.
Tenho boas lembranças da época em que não vivi, quando havia reuniões em casas de companheiros (nessa época um conceito bonito de se aplicar, tão escasso hoje em dia) e se pensava sobre nossos vizinhos; nos bares se falava em algo mais, muito além da novela das oito ou o que levar e fazer nas festas da prefeitura.
Um ato silencioso poderia surtir efeito. Ledo engano meu, já estamos em silencio. Nosso grito deve ecoar pela América Latina, Central, nosso grito de apoio – já que há gente com tanta voz para gritar em shows de axé ou em funerais de astros do pop. A internet existe agora, em detrimento dos nossos anos de chumbo, podemos fazer um estrago inimaginável usando-a – basta substituir um minuto de nosso tempo em sites de relacionamento (onde passamos horas para mostrar ao mundo que odiamos isso ou aquilo) e nos determos numa campanha global (e que não seja uma campanha para reivindicar uma turnê da boy band mais badalada do momento em nosso país).
Que essa seja a semente: liberdade, liberdade! Podemos falar e gritar, mas quem quer ouvir? Quem quer ler sobre isso? Os dias se passam e vejo que só ansiamos a liberdade de escrita e fala quando as temos cerceadas – quem de fato viveu o verdadeiro cárcere diz que está cansado e joga esse fardo em nós jovens e quem não viveu diz não saber como agir por falta de experiência.
Além do grito, ou sussurro quase não ouvido, podemos realmente calar; assistir aos programas de domingo da TV aberta e vermos o enterro de nossa última quimera – a liberdade jogada fora, o direito adquirido de fazer algo e preferir dormir, falar em paz e igualdade e nos trancarmos em nossos condomínios. Viva a nossa liberdade! Pêsames aos hondurenhos! Passamos mais de vinte anos num regime em que o povo de fora via atônito e pouco fazia para nos ajudar, espero que tenham melhor sorte – já que se depender de nossa juventude engajada nosso apoio não passará de muros pichados e tópicos em comunidades de relacionamento na internet.