Todo mundo já se perguntou alguma vez na vida como deve ser estar morto – se há algo depois, se durante sente-se dor, esse tipo de dúvida trivial que se arrasta por toda nossa existência. A história que o caro leitor lerá - se tiver saco de ler até o fim - é verídica e autobiográfica: sobre quando eu morri duas vezes no mesmo dia!
Uma história que não tem nada de amor, ódio ou suicídio – em partes. No dia ensolarado de um ano letivo qualquer, saindo do famigerado Ginásio Pernambucano com um amigo de sala e partindo em busca de aventuras varonis - que só quem estuda no centro da cidade tem o prazer de conferir. Os hormônios da recente adolescência ebulindo em nosso corpo e um mundo a ser descoberto.
- ‘Vamo’ comprar alguma coisa pra beber?
- ‘Bora’!
- Orloff, ‘tamo’ com uma grana a mais que não gastamos no ‘play time’ e dá pra comprar uma garrafa.
- Beleza.
Em como todo mercadinho da vida, bebida vendida ilegalmente a garotos de 15 anos ainda em jejum e debaixo de sol forte. Meio dia, troca de turno na escola e nós no Parque Treze de Maio com aquela garrafa debaixo do braço e duas laranjas para ‘tira gosto’.
- ‘Vamo’ virar! - anuncia o garoto mais fortinho fisicamente, claramente numa prova de sua recente descoberta da virilidade.
- ‘Vamo’! – respondo eu, mais franzino e com o desabrochar de um mundo junky cheios de mistérios a oferecer.
Copos cheios e goladas consecutivas, o gosto ruim de birita para quem ainda se arriscava nos meandros dos vinhos baratos. A cabeça responde rapidamente e, numa súbita sensação de lucidez (talvez a última) surge a minha idéia.
- É melhor a gente chegar na escola e ver qual é a de boa lá.
- Pode ser.
Já cambaleantes, nos esgueiramos pela 7 de Setembro até cortarmos caminho para o GP (nessa época sediado na antiga Escola de Engenharia). Lá chegando, e com anjos, demônios ou o que quer que pensem, entrei de súbito na sala do diretor Édson (grande figura, quase paternal) balbuciando meu telefone e perdendo a razão, mas não antes de vomitar encima de seus papeis espalhados na escrivaninha.
O apagão. Nem sabia mais onde diabos estava Fabrício, acordo de novo com alguém de bíblia em riste – eu deitado de bruços, no chão, e o zelador jogando água gelada em minha nuca.
- Já ligamos pro SAMU!
- “O Senhor é meu pastor... blá blá blá”.
Novamente um apagão. Nada de dor, angústia, ou essa porra toda de anjos, túnel ou espíritos. Nesse momento meu coraçãozinho pifara e a primeira parada se dava – cacete, que sorte, na hora que chega o bombeiro! Desfibrilador, maca, rapidez fria de um atendente.
Minha mente começa a funcionar, como num sonho de cegos – onde eu pensava, ouvia, mas não via nada nesse floreio. Só pensava e ouvia, nada de sentir os choques e massagens. “Eu vou juntar minhas forças e levantar, mostrar pro povo que eu nem to tão mal assim”. Assim o fiz, quando meu olho abriu (logo após o choque) e vi que tava numa porra de maca, os alunos do turno da tarde entrando na escola e vendo esse espetáculo bizarro onde eu – pra variar – era a estrela principal. Amarraram-me na maca e jogaram na ambulância.
Outra parada, desfibrila, massageia, voltei!
- Tanta ocorrência séria e a gente resgatando moleque bêbado, e esse quase morrendo. Sorte filha da puta! – ouvia depois do choque essas palavras do bombeiro com luvas descartáveis me estapeando e conversando com uns alunos da tarde “chegados” meus.
- Me diz teu nome!
- Eduardo Monteiro – apagando novamente e com muito custo para falar.
- Teu nome!
- Pra que perguntar de novo, eu não já disse! – o coitado só tentava me manter acordado, tentando evitar meu inevitável coma (11 horas de coma, não alcoólico, coma mesmo!).
Apagão. Escuro, um sono sem sonhos. Depois o frio e a voz de minha mãe. Comecei a ouvir, mas nada de forças para abrir os olhos ou falar, isso demorou um bocado. Exame toxicológico: só álcool constatado no meu sangue. Acho que decepcionei quem esperava mais. Depois as forças e algo pior que a morte: abrir meus olhos e ver um bando de crentes querendo me converter, minha mãe puta de lado da cama do hospital, uma garrafa de glicosado em cada braço e nada de ressaca! (alguma coisa boa nessa merda).
Bem, depois é depois. O fato é que eu morri e nem senti; virei um herói entre os amigos – claro, vomitei na mesa do diretor, embora ele nem merecesse; peguei umas gatinhas contando como era morrer e virei uma lenda! Procurem com amigos médicos ou na internet a possibilidade de retorno nesses casos, escassa!
A lição: a porra da bebida teve a chance dela de me matar. Disso eu não morro mais!
- Um drink a vida!
Ah, Fabrício também se fudeu, mas ele que conte a história dele!
Uma história que não tem nada de amor, ódio ou suicídio – em partes. No dia ensolarado de um ano letivo qualquer, saindo do famigerado Ginásio Pernambucano com um amigo de sala e partindo em busca de aventuras varonis - que só quem estuda no centro da cidade tem o prazer de conferir. Os hormônios da recente adolescência ebulindo em nosso corpo e um mundo a ser descoberto.
- ‘Vamo’ comprar alguma coisa pra beber?
- ‘Bora’!
- Orloff, ‘tamo’ com uma grana a mais que não gastamos no ‘play time’ e dá pra comprar uma garrafa.
- Beleza.
Em como todo mercadinho da vida, bebida vendida ilegalmente a garotos de 15 anos ainda em jejum e debaixo de sol forte. Meio dia, troca de turno na escola e nós no Parque Treze de Maio com aquela garrafa debaixo do braço e duas laranjas para ‘tira gosto’.
- ‘Vamo’ virar! - anuncia o garoto mais fortinho fisicamente, claramente numa prova de sua recente descoberta da virilidade.
- ‘Vamo’! – respondo eu, mais franzino e com o desabrochar de um mundo junky cheios de mistérios a oferecer.
Copos cheios e goladas consecutivas, o gosto ruim de birita para quem ainda se arriscava nos meandros dos vinhos baratos. A cabeça responde rapidamente e, numa súbita sensação de lucidez (talvez a última) surge a minha idéia.
- É melhor a gente chegar na escola e ver qual é a de boa lá.
- Pode ser.
Já cambaleantes, nos esgueiramos pela 7 de Setembro até cortarmos caminho para o GP (nessa época sediado na antiga Escola de Engenharia). Lá chegando, e com anjos, demônios ou o que quer que pensem, entrei de súbito na sala do diretor Édson (grande figura, quase paternal) balbuciando meu telefone e perdendo a razão, mas não antes de vomitar encima de seus papeis espalhados na escrivaninha.
O apagão. Nem sabia mais onde diabos estava Fabrício, acordo de novo com alguém de bíblia em riste – eu deitado de bruços, no chão, e o zelador jogando água gelada em minha nuca.
- Já ligamos pro SAMU!
- “O Senhor é meu pastor... blá blá blá”.
Novamente um apagão. Nada de dor, angústia, ou essa porra toda de anjos, túnel ou espíritos. Nesse momento meu coraçãozinho pifara e a primeira parada se dava – cacete, que sorte, na hora que chega o bombeiro! Desfibrilador, maca, rapidez fria de um atendente.
Minha mente começa a funcionar, como num sonho de cegos – onde eu pensava, ouvia, mas não via nada nesse floreio. Só pensava e ouvia, nada de sentir os choques e massagens. “Eu vou juntar minhas forças e levantar, mostrar pro povo que eu nem to tão mal assim”. Assim o fiz, quando meu olho abriu (logo após o choque) e vi que tava numa porra de maca, os alunos do turno da tarde entrando na escola e vendo esse espetáculo bizarro onde eu – pra variar – era a estrela principal. Amarraram-me na maca e jogaram na ambulância.
Outra parada, desfibrila, massageia, voltei!
- Tanta ocorrência séria e a gente resgatando moleque bêbado, e esse quase morrendo. Sorte filha da puta! – ouvia depois do choque essas palavras do bombeiro com luvas descartáveis me estapeando e conversando com uns alunos da tarde “chegados” meus.
- Me diz teu nome!
- Eduardo Monteiro – apagando novamente e com muito custo para falar.
- Teu nome!
- Pra que perguntar de novo, eu não já disse! – o coitado só tentava me manter acordado, tentando evitar meu inevitável coma (11 horas de coma, não alcoólico, coma mesmo!).
Apagão. Escuro, um sono sem sonhos. Depois o frio e a voz de minha mãe. Comecei a ouvir, mas nada de forças para abrir os olhos ou falar, isso demorou um bocado. Exame toxicológico: só álcool constatado no meu sangue. Acho que decepcionei quem esperava mais. Depois as forças e algo pior que a morte: abrir meus olhos e ver um bando de crentes querendo me converter, minha mãe puta de lado da cama do hospital, uma garrafa de glicosado em cada braço e nada de ressaca! (alguma coisa boa nessa merda).
Bem, depois é depois. O fato é que eu morri e nem senti; virei um herói entre os amigos – claro, vomitei na mesa do diretor, embora ele nem merecesse; peguei umas gatinhas contando como era morrer e virei uma lenda! Procurem com amigos médicos ou na internet a possibilidade de retorno nesses casos, escassa!
A lição: a porra da bebida teve a chance dela de me matar. Disso eu não morro mais!
- Um drink a vida!
Ah, Fabrício também se fudeu, mas ele que conte a história dele!
Pude visualizar estas palavras saindo da sua boca.
ResponderExcluirA contação da estória está extremamente real, bem a tua cara mesmo!
Dois, por favor, que eu to com a boca seca!
ResponderExcluirEntão, achava que era só uma lenda urbana.
ResponderExcluirmas foi real então.